sábado, 19 de dezembro de 2009

De repente você cansa

"De repente você cansa.

Cansa das músicas que sempre ouviu, das pessoas que te cercam, das roupas no armário, das ruas em que anda.
Cansa do jeito que penteia o cabelo, do jeito que levanta da cama todos os dias e das palavras que escolhe para não dizer o que realmente gostaria de dizer.
Cansa de procurar beleza onde beleza não há e até mesmo de desculpar.
Cansa de tentar fazer os outros enxergarem que seus pesadelos são apenas uma ponte rumo ao nada e não uma encruzilhada.
Cansa de ofertar o verão que queima nos olhos e de ostentar indiferença e cansa, sobretudo, de tentar fazer a diferença.
Cansa de tentar fazer o certo o tempo todo e de se perdoar quando faz o errado.
Cansa pelo drama do amigo distante, cansa pelas lamentações do amigo ao lado.

E por mais que você corte o cabelo, compre roupas novas, faça uma viagem, leia sobre assuntos inimagináveis, transe debaixo de uma ponte, faça uma tatuagem, coloque um piercing, delete amigos do seu Facebook, Twitter, Orkut e do seu convívio social, esse cansaço não passa.
Porque no fundo você não está cansado do mundo, mas da maneira como reage a ele.
Da maneira como reage a uma pedrada, a uma flor, a um menino de rua, a ausência da lua em suas noites cheias.
Não é difícil aceitar as pessoas como elas são, difícil é mudar a maneira como reagimos a elas.
Não é aceitar a vida como ela é que cansa, mas sim a dança que fazemos para nos esquivar de tudo aquilo que não entendemos ou sentimos medo.
Sei não, mas talvez o poeta tenha razão quando diz que ‘o que cansa, mesmo, é a insegurança’...
Porque só repete o mesmo padrão de comportamento/emoção, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, quem precisa da pseudo-segurança que ‘o habitual’ carrega no ventre.
Ultimamente tenho optado pela mudança. Não a mudança que alcança os olhos, como um corte de cabelo, mas a mudança que me faz dormir contente por ter agido diferente.
Ela cansa tanto quanto, mas pelo menos me faz sentir que estou viva e não apenas vivendo os dias."


Monica Montone

0 comentários: